Uma Casa Séria

25.7.06

Criança é um bicho cruel

Adora ver o sofrimento de outras crianças, ou não se importa se os causa. Que para o outro dá quase na mesma.

Quando eu era uma criança pequena, em oposição à criança alta e gorda que virei agora, existiam umas brincadeiras baseadas na capacidade de impor dor ao adversário e resistir à dor por ele imposta.

Uma delas, e mais obvia, era a de alternar-se em socos ao ombro do adversário, até um deles arregar, que era a palavra para desistir / reconhecer a força superior / reconhecer a menor resistência à dor / se tornar alvo de gozação frente aos amiguinhos e, pior, às menininhas da escola.

Uma outra, consistia em posicionar suas mão com a palma para cima, manter os dedos indicador e médio esticados, dobrar os demais. Daí o adversário, com a mesma empunhadura, batia com seus dois dedos nos dois dedos que esperavam pelo golpe, daí alternava-se quem batia até um arregar e se submeter à vergonha publica.

O primeiro jogo eu pouco disputava, nem me lembro porque, acho que não era comum na minha escola ou bairro*, mas o segundo era minha desgraça, eu perdia pra todo mundo, colegas de escola ou meu primo que estudava na mesa classe.

Por isso, quando aprendi um terceiro e me tornei bom o bastante nele, passei a ser digno de algum respeito. Não era eu um loser total; eu tinha lá minha força / agilidade.

Porque esse jogo era aquele que um dos jogadores mantém suas mãos à frente com as palmas para cima e o outro posiciona suas mãos com as palmas para baixo sobre as do jogador.

Daí o jogo fica assim, quem está por baixo tem que tirar a mão de debaixo e bater na mão que esta em cima, podendo ser direita x direita, esquerda x esquerda, direita x esquerda, esquerda x direita ou as duas ao mesmo tempo.

A agilidade contava muito porque caso o jogador tentasse o golpe e errasse três vezes, as posições se invertiam e quem estava batendo passava a ter que se esquivar.

Nesse jogo eu fui capaz de romper as veias de uma das mãos de meu primo, que ostentou um hematoma por alguns dias que comprovavam minha vitória.

Mas são jogos baseados em teimosia, sadomasoquismo (entre leve e moderado [ainda que a única conotação sexual da época era mandar o amiguinho torcedor que te aporrinhava na derrota tomar no cu]) e crueldade.

As brigas de meninas usavam de artifícios similares, quando uma agarrava o cabelo da outra e ambas ficavam puxando e mandando a outra soltar, quem resistisse menos perdia.

As formas de prolongar esse tipo de embate eram fundamentadas essencialmente em teimosia. Mesmo doendo pacas, percebia-se que estava-se impondo dor e isso bastava, era só uma questão de esconder o sofrimento pra não dar satisfação ao adversário...

Criança é ou não é cruel?

Update:
* lembrei porque nos nao costumavamos jogar o do soco: Sempre um dos competidores apelava e baixava um pouco o soco, pegando no nervo do braço, coisa que doía pacas. Não era o lugar combinado mas nao dava pra punir o apelão que sempre alegava ter errado o soco

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