Uma Casa Séria

13.6.08

Preferencia nacional

Meu pai conta que certa vez assistiu a um discurso de Alexandre Garcia. Não lembro do motivo nem do tema, mas em dado momento ele passou a falar sobre a diferenca entre americanos e brasileiros e chegava a um ponto onde comparava as preferências sexuais dos dois povos.

Os americanos são fanáticos por seios. Toda americana que preste usa sutiã GG. Todo filme pornô norte americano tem peitudas. Nos filmes e seriados percebemos que lá, bunda grande é motivo de chacota. As atrizes têm, no geral, umas bundinhas muxibentas.

As mulheres daqui ainda nao perceberam que, ao adicionar seus mililitros de silicone, estão buscando o padrão de beleza de Hollywood, enquanto deviam buscar a beleza do fio dental.

Porque o povo brasileiro gosta mesmo é de bunda. Bundinhas arrebitadas, branquinhas ou morenas, com marquinha de biquini, gostosas de ver rebolando pelas ruas do país, gostosas de apalpar nos escurinhos desse mundão.

Daí Alexandre Garcia mudou de assunto e passou a comentar sobre o fato os Estados Unidos serem desenvolvidos, o povo de lá é próspero e aqui somos terceiro mundão.

E buscou encontrar algo que explicasse. Encontrou.

Os americanos são pósperos e nós somos esse paizinho fodido porque o maior objeto de desejo sexual do povo americano é também a primeira fonte de alimento e desenvolvimento do ser humano, o leite.



Alexandre Garcia agradeceu a atencão e se despediu. Quando as risadas começaram he was long gone.

6.6.08

Semanas Antes

Sarah gostava de dirigir, Mesmo à noite, gostava da velocidade da estrada, era meio que uma terapia. Ela, a musiquinha baixinha para nao acordar seu marido, que dormia no banco do passageiro.

Moravam em Santa Catarina, iam passar uns dias na casa de um amigo de faculdade dela que morava em Vitória. Como tinham tempo, resolveram economizar a passagem aérea e ir de carro, assim teriam maior mobilidade em Vitória e, se tudo fosse uma merda, poderiam voltar antes, ou seguir adiante, até o litoral baiano, como ela queria.

Depois de dirigir o dia inteiro, o marido propôs pararem em algum motel para pernoitarem, mas Sarah disse que queira dirigir um pouco, para adiantar o trajeto. Trocaram de lado e continuaram.

Depois de algum tempo sem passar por nada nem ninguém, Sarah avistou luzes à frente, tirou o pé do acelerador, ia parar, pensando se tratar de um motel, mas uma placa dizia:

A Melhor Carne da Região!

Então ela acelerou, não sem perceber que haviam muitos caminhões parados, concluiu que a carne deviar ser realmente boa.

Logo à frente, uma curva acentuada à esquerda e de repente um estouro (O Pneu!!!, pensou ela) e o carro desgovernado saiu da pista, colidindo violentamente com um poste fora da estrada.

Gracas ao conjunto de equipamentos de segurança, Sarah não se machucou, soltou o cinto de segurança, se desvencilhou do airbag e chamou pelo marido, ele não estava no carro.

Havia sangue no para brisa estilhaçado. Ela bem que tinha insistido para que usasse o cinto de segurança, teimoso.

Desceu desesperada e encontrou o marido desacordado e ensangüentado caído no chão a alguns metros.

Ouviu vozes e um latido de cachorro. Gritou por socorro.

De repente o cão chegou e a atacou, quando o cachorro ia mordê-la, alguem gritou:

- Cão!!! Quieto!!!

E o cachorro obedeceu, dois velhos carregando lanternas chegaram ao local.

- Eu cuido do carro.

E um deles se dirigiu ao carro, enquanto o outro se aproximou dela e a agarrou com violência pelo cabelos, dizendo:

- Magrinha, não vai dar pra nada...

4.6.08

Quase no fim

Quando acordou, tinha a impressão de ter ouvido a voz de Sarah, sua esposa, chamando pelo seu nome, mas não sabia se era sonho ou realidade.

Pensou nela e em se ela estava procurando por ele, mas não sabia nem ao menos se ela estava bem. “carro em chamas” pensou, sentiu medo por ela.

Sua perna direita doeu, parecia que seu joelho estava torcido, se mexeu para fazê-lo parar de doer e percebeu que seus movimentos estava limitados por uma corrente que prendia seu braço à armação da cama e que sua perna direita não estava lá.

Estava escuro, ao olhar para cima, deduziu que era noite, pois não havia luz por entre as telhas.

O cheiro de comida ainda estava presente. Percebeu que essa era uma constante desde que acordou naquela cama.

Ficou lá, com medo e ansiedade enquanto o dia nascia. Ao mesmo tempo em que aguardava o momento em que um dos velhinhos viria e ele poderia tentar arrancar alguma informação, temia o que poderia descobrir.

E foi isso o que aconteceu, com o dia claro, passos sobre o piso de madeira denunciavam que alguem se aproximava.

Era o velho careca, qual era mesmo o nome dele? José ou João, não se lembrava mais.

Ele trazia uma caixa de madeira com uma alça, como uma maleta de ferramentas.

- Já acordado? Bem, não faz diferença.
- Por favor… O que está acon
- Calaboca!
- ...
- Se conseguissemos te manter calmo por mais tempo voce viveria mais, mas o medo não é bom para nós – e olhando com curiosidade para mim – estraga a carne!
- Como assim?
- Nosso prato da casa leva um tempero especial que o faz muito popular entre os caminhoneiros da Dutra, mas ja percebemos que quando voces sentem medo o sabor estraga. Por isso pra voce acaba hoje.
- Como?
- Nós o mantivemos vivo porque quanto mais fresca a carne, melhor o resultado do prato, sua perna rendeu quase uma semana! A outra perna deve dar até o fim do mês.

Dito isso, retirou um facão da maleta e veio em direção à cama.

- Por favor, e minha esposa?
- José está com ela agora. Velho indecente. Disse que ela é muito magra, porém bela. Arrumou outro uso para ela. Quando ele se cansar dela, ela servirá de alimento para o cão.

João então agarrou seu pulso que estava solto, puxou de forma que a corrente do outro braço se esticasse e segurasse seus braços abertos. Fraco como estava, nao conseguiu reagir.

O facão desceu rápido em seu pescoço, praticamente o decapitando.

Conclui.

3.6.08

Capítulo 2

- Ah meu Deus!!! Meu Deus!!! Minha perna!!! O que houve com minha perna!? Meu Deus!!!
- Acalme-se…
- Acalmar, como acalmar? Estou sem minha perna!!! Minha perna!!!
- Não tinhamos escolha, se não cortássemos sua perna fora, voce estaria morto.
- Co-Como assim?
- Não sabemos bem, mas quando o encontramos, vc tinha fratura exposta no osso da coxa e muito sangramento. Nós o trouxemos pra cá e meu irmão, que sabe dessas coisas tentou consertar, mas a infecção nao diminuiu, voce ardia em febre, então ele cortou fora e então você sarou.
- Seu irmão?
Foi então que o outro velhinho apareceu. Era indiscutível que fossem irmãos, tamanha a semelhança. A única diferença eram os cabelos, ao passo que José – esse era o nome do primeiro velhinho – tinha os cabelos totalmente brancos, João – esse era o segundo – era careca da testa à nuca.

Até mesmo o encurvado das costas ao andar dos dois era identico. Ao lado de João, vinha um cão marrom, pelo médio, sarnento, magro e também velho, que andava com os dentes à mostra, como se estivesse rosnando.
- O que houve com a minha perna? Como voce a cortou?
- Acalme-se, jovem, explicarei agora, mas voce deve se acalmar, voce estava muito fraco, perdeu muito sangue e a infecção tomou muito de sua força.
- . . .
- Tentamos o que foi possível para salvar sua perna, mas o estado em que o encontramos era grave, tivemos que agir sem demora.
Mais uma vez tentou se levantar para ver melhor o que estava acontecendo e desta vez consegui se sentar. O cachorro começou a rosnar e avançar ameaçadoramente em sua direção.
- Quieto!
Esse era José.
E o cão parou, embora seus olhos cheios de ódio ainda se mantivessem vidrados nele.
Conseguiu então ter uma visão melhor do queadro geral; Ele estava realmente magro, quantos dias teriam se passado? O que aconteceu? Onde estaria Sarah? A cama era muito velha. No comodo em que estava havia somente a cama, uma janela alta e a porta por onde todos entraram. A iluminação era precária. Pelas frestas nas telhas era possivel dizer que era dia, mas somente isso. O lençol da cama, outrora branco, era velho e amarelado. Ele ainda vestia a mesma camiseta preta que estava no dia da viagem, e a mesma calça jeans, embora cortada na altura dos bolsos na perna direita.
Fez menção de se levantar, mas foi impedido por José.
- Voce ainda está fraco, descanse.
- Mas preciso entrar em contato com alguém, preciso de um telefone.
- Amanhã o levaremos até a cidade e isso poderá ser resolvido. Por hora, descanse, ja lhe traremos uma sopa.
Ele estava realmente fraco, desistindo de argumentar, deitou-se novamente e ouviu todos se retirarem.
Dormiu, seu sono foi perturbado, havia dor, gritos e imagens disformes, como índios dançando ao redor da fogueira.
Passado algum tempo, João retorna com uma tigela fumegante, então o cheiro de canja de galinha o atingiu e ele se lembrou que nao comia a tempos e que uma sopa seria em vinda. Tomou a sopa e uma sensação de calor reconfortante o embalou.
Aninhou-se de lado para dormir e ouviu o velho sair e fechar a porta.
E foi então, ao se mexer que fez a cama balançar e ouviu um som metálico, olhou para a lateral da cama e viu uma corrente presa à armaçao da cama com um tipo de grilhão com cadeado.
Nesse momento ouviu a voz do velhinho, nao sabia dizer qual, às suas costas:
- Eu achava que teríamos mais uma noite antes da corrente ser necessária.
Uma pancada na cabeça e tudo ficou escuro novamente.

Continua

2.6.08

Acordou de um sono perturbado, meio enjoado, zonzo e deslocado. Seu corpo doía de uma forma que nunca havia doído antes. Doía nos ossos, doía nos musculos, doía na pele.

Tentou se levantar mas não tinha forças, seu corpo parecia mais pesado do que se lembrava.

Sua visão de onde estava era de um teto com telhas aparentes, telhas de barro, com armação de madeira, parecia velho. Algumas teias de aranha nos cantos mais altos e o aspecto das vigas de madeira denunciavam o descuido do dono do lugar.

Estava numa cama, o colchão era fino o bastante para que sentisse as ripas do estrado contra seu corpo.

Um cheiro de comida vinha de algum comodo fora do quarto mal iluminado em que estava.
Mas um esforço para se levantar e nenhum sucesso, começa a se desesperar:

- Alô? Alguém aí?
- . . .
- Alôôô?

Passos sobre um piso de madeira. Se aproximando. Um velhinho curvado e magro aparece ao lado da cama:

- Ah, acordado. Que bom. Estávamos preocupados. Voce dormiu por vários dias.
- Onde estou?
- Está em nosso vilarejo. Em Goiabal.
- Goiabal? Isso é perto da Dutra?
- Dutra? Sim, fica próximo, encontramos voce proximo a um carro em chamas e o trouxemos para casa para auxilia-lo.
- Me trouxeram? Mas e minha mulher? Ela estava dirigindo!
- Sinto muito, não havia mais ninguem lá, nós procuramos.
- Nem mesmo dentro do carro?
- Como eu disse, estava em chamas, mas não parecia haver mais ninguem lá.

Sua perna direita coçava. Se mexeu para coçar e haviam faixas cobrindo sua coxa. O velhinho ainda falava

- Voce estava sangrando muito, nós cuidamos de voce, mas infelizmente não pudemos fazer nada por sua perna.

O velhinho disse isso no exato momento que ele tateou e percebeu que a atadura terminava um pouco abaixo no inicio do fêmur.

Continua...