Uma Casa Séria

2.12.16

Eles Venceram

Já a algum tempo incluo nas conversas inevitáveis sobre política, economia e o futuro próximo e distante o comentário que, se começarmos a fazer algo diferente para melhorar o país, pra não dizer o mundo, minha geração não vai ver os resultados, talvez a geração do meu filho, se nossas mudanças forem rápidas.
Mas estamos num ciclo vicioso, num loop em que cada nova interação traz um resultado pior do que a anterior. Cada novo congresso eleito é pior do que o anterior, cada líder ou pessoa de destaque, fala mais merda do que a anterior, seres humanos cada vez menores, com ambições mesquinhas e aspirações asquerosas.
Me peguei, hoje pela manhã, pensando em Recall, aquela pratica de recolher e reparar ou substituir um lote de produtos defeituosos lançados no mercado. Os processos que levam ao produto defeituoso têm seu controle de qualidade, bom ou mau, mas quando dá errado tem que resolver logo. Na analogia, não dá pra fazer recall do processo político porque não é um lote estragado, o que está lá é o extrato do que está aqui fora.
O que está aqui fora é cada vez menor, porque o sistema, ah o sistema; merece um texto só pra ele... O sistema forma pessoas cada vez menores. Menos capazes de pensar, alienadas em meio a tanta informação por não saber processar o que entra. O processo é o que é: não conseguimos mudar porque o jeito que está interessa a quem está no balaio, jogando o jogo. Já falamos que políticos utilizam a maioria de seu tempo e recursos na manutenção do cargo e da carreira.
Dia 30/11/16 teve uma cerimônia na Colômbia causada pelo acidente aéreo com o time da Chapecoense. Foi linda. Respeitosa. Comovente. Até o Serra, que está longe de ser apreciado por mim, mandou muito bem. Enquanto eu assistia meu estomago começou a embrulhar. A Colômbia transformou a tragédia de um time brasileiro em uma tragédia deles. Se comoveram, se consternaram, se manifestaram em solidariedade.
Foi uma tragédia que repercutiu mundo afora, ecoando em lugares que nem se espera, como na NFL, com gestos, simbólicos e práticos, surgindo a cada momento. E eu ficando nauseado.
A imagem que me consumia era a do escárnio de nosso congresso nacional comemorando, na madrugada anterior, sua vingança mesquinha contra o processo de limpeza de esgoto que o pais precisa e comemora a cada passo. Pareciam bandidos de cinema reunidos num beco comemorando o sucesso de um crime bem-sucedido. Totalmente alheios ao que acontece fora de seu mundinho sórdido.
Eu me peguei remoendo a rematrícula da escola de meus filhos; educação é a única coisa decente que não abro a mão de tentar proporcionar, mas o golpe mensal não sendo o bastante, vem acompanhado de uma mordida a mais no fim do ano, oportunamente mordendo o 13º salário. E ao pensar em salario, uma linha do demonstrativo, o holerith, me saltava a mente: IRRF. Que morde forte meus rendimentos e retorna nada: saúde pública é uma vergonha, educação governamental é uma piada e a segurança pública ineficiente. E o escarnio dos corruptos compondo a cena, com seus desvios de verba, tráfico de influência e demais derivados.... Ao escrever isso a náusea retorna forte.
Infelizmente eu sou fruto deste sistema, desse pais de sangues de barata. Incapaz de reagir ao descaso, de mudar o que não presta. Incapaz até de me mudar, evocando o ame-o ou deixe-o, queria saber como deixa-lo. Mas sou mais um bosta. Mais uma cabeça de gado nesse rebanho de néscios.
Fui derrotado.